sexta-feira, 24 de maio de 2013

Eu quero e ponto.

Minha vida sempre foi feita de pontos finais. Frases curtas. Começo, meio e fim. Ou só começo e fim. Ou mesmo, só fim. Mas tudo sempre acabou, fácil demais. Rápido. Eu te amava ontem, mas hoje eu não amo e pronto. E ponto. E fim. Todo meu peso de ser dona de mim, fez com que me tornasse uma perita em despedidas. Expert mesmo, de já conhecer a hora de chorar, de abraçar, de dizer as últimas palavras e já não engasgar com o silêncio da volta pra casa. Eu aprendi a perder, por entender que nem sempre ganhar vale a pena. Por não acreditar em fadas, duendes ou em amor eterno. Por não esperar muito de ninguém. Por ser curta e fria. Mas lá dentro, lá no fundo, lá no meu âmago mais escondido tudo que eu queria era algo que não tivesse ponto final. Sonhar não faz mal, meu avô sempre dizia enquanto fazia a barba e ouvia os números da mega-sena que ele nunca chegou nem perto de ganhar. Eu sonho com algo diferente. Eu sonho com o insonhável. Não quero casa de praia, nem abajur bonito na sala. Nem marido de barba mal feita que se abaixa na porta pra receber nosso filhinho começando andar. Eu quero quebra de regras. Não quero a família ideal, nem aliança no dedo, nem jantares em restaurantes caros no final de semana. Eu quero a bagunça do sentimento. Quero brigar e beijar. Quero daqui trinta anos sentir a mesma vontade. Quero poder falar o que eu quiser, dançar tango de madrugada pela casa. Quero engravidar sem querer e eu mesma pintar o quarto do meu filho. Quero uma foto do homem que eu amar na carteira, daquelas bem feias 3x4 pra quando eu olhar, rir e pensar “Até feio, ele é bonito”. Quero que seja bonito, mas não muito. Quero que me mande ficar quieta e me jogue almofadas, quando eu começar a fazer birra. Quero que ria de mim. Quero que ria comigo. Quero que tenha alguma mania insuportável pra eu poder reclamar no café da manhã. Quero que meu filho tenha o nome do meu avô. Quero aquele sexo com olho no olho, boca na boca, pele na pele, com tesão sobrenatural. Sem hora marcada, sem esconder desejo. Quero o amor na essência dele. Quero a convivência complicada de ser dois. E depois três. Quero parar de acreditar que tudo acaba, mesmo que de fato, acabe. Quero ser chamada de louca, por ter uma vida tão estranha e parecer tão feliz. Eu quero deixar de lado os pontos finais e começar usar vírgulas, reticências, exclamações. Quero algumas interrogações, pra não perder o costume. Quero um pouco de dinheiro e tudo de saúde. Um cachorro que não saiba fazer truques direito e uma empregada com sotaque espanhol. Quero deixar de escrever textos curtos e escrever um livro. Um livro que vou chamar de “Sem fim”. Porque ele vai acabar, mas só na última página.

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